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Quinta - 21 de Junho de 2007 às 07:23
Por: Luiz Celso

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Em vez de engalfinhar-se com outras companhias de hardware e software no mercado, a estratégia da Apple está em criar a sua arena para, então, dominá-la.

Quando toda a indústria participava do que era então chamado de mercado “compatível IBM”, com hardware clone rodando DOS, OS/2, Windows e, depois, Linux, a Apple não quis brincar. Em lugar disso, a companhia sempre construiu seus próprios computadores que rodavam seus próprios sistemas operacionais.

A situação é parecida com o iPod. O mercado de tocadores portáteis é uma casa que a Apple construiu. A empresa possui a plataforma iTunes e controla em grande parte a distribuição de música digital. Steve Jobs é o homem mais poderoso em Hollywood e ele nem vive por lá.

A Apple não compete diretamente com ninguém neste mercado por que, assim como no setor de Macintosh, a Apple criou a plataforma de gerenciamento de arquivos de música digital (iTunes), o mercado de conteúdo (distribuição dos arquivos através do iTunes) e os padrões; a Apple não está deixando mais ninguém brincar nesse área.

Com o iPhone, a Apple está novamente se recusando a competir diretamente no mercado de telefonia celular. Enquanto alguns fornecedores deste setor competem diretamente no setor com Windows Mobile e Symbian, entre outros, companhias como a Research In Motion (RIM), Palm e, em pouco tempo, a Apple estarão brincando nas suas próprias caixas de brinquedos. O controle da sua própria plataforma provou a RIM e a Palm ser a melhor política e também terá sucesso para a Apple.

A Apple está, novamente, criando a sua própria categoria – chamaremos de celulares baseados em Mac OS – e garanto que a Apple vai registrar 100% de participação neste mercado.

Só consigo ver um exemplo de competição da Apple diretamente: o mercado de software de tocadores de mídia.

A versão para Windows do QuickTime enfrenta diretamente a solução Windows Media Player, o RealPlayer e outros. Ainda que o QuickTime se sustente, a Apple não domina este mercado.

Então, por que tenho uma desconfiança sobre o desempenho do Safari no Windows? Com este anúncio, Jobs fez um movimento que foge das características da empresa e entrou em um mercado maduro que não foi criado ou que é controlado pela Apple.

Horas depois do anúncio de Jobs do Safari rodando em Windows (e apesar do slogan da Apple que o Safari foi desenhado para “ser seguro desde o primeiro dia”) diversos especialistas em segurança publicaram informações sobre falhas no novo navegador. Blogs e fóruns de mensagens postaram largamente sobre as notícias e o escárnio foi pesado sobre a Apple e o Safari.

É uma versão beta e falhas são esperadas. Boa parte delas, inclusive, foram corrigidas pela Apple três dias após a divulgação. Ainda que os fãs da Apple tenham partido para a contra-artilharia, é melhor eles se acostumarem com isso.

Enquanto os especialistas de segurança estão pressionando a Apple pelas falhas no beta, partidários do PC começaram a questionar a possibilidade de atuação da empresa em um ambiente tão heterogêneo e contrario a um Mac. A Apple pode esperar muito mais disso no futuro. Por quê? Simplesmente pelo Safari para Windows não é suficientemente Windows.

Existem confrontos nos processos de definição de tamanho das janelas dos dois programas. As fontes de Windows parecem manchas e sempre em negrito, o tempo todo. Os menus são difíceis de ler. O Safari utiliza a sua própria e inalterada combinação de teclas para ações como trocar as tabs. A lista continua por diversos tópicos.

Quando a Apple exporta a sua interface “superior” para o contexto do Windows, local no qual todos estão confortáveis com o estilo Microsoft, coisas ruins acontecem.

Os usuários Windows são forçados a usar o iTunes se querem que seu iPod toque e, claro, eles o fazem. Mas é doloroso, consome muito tempo e trata-se de uma experiência irritante para diversos usuários que estão acostumados com as convenções padronizadas pelo Windows para botões, a barra de ferramentas e o menu, além das funcionalidades.

A Apple consegue sobreviver com o estilo “está conosco ou está contra nós” com o QuickTime, pois os controles além dos tradicionais “Play”, “Pause”, “Stop”, e “Fast-forward”, etc., são descenessários.

Mas em um browser, a Apple vai precisar fazer coisas no estilo do Windows ou será comida viva. Mesmo com o Internet Explorer dominando o setor em presença de mercado, o real adversário da Apple é o Firefox, que os usuários mais ativos e avançados amam e que, no final, é o navegador maior que não está junto com o Windows. A maior parte das pessoas que estão tendendo a instalar um segundo navegador ou substituir o que o Windows traz, já o fizeram. E instalaram o Firefox.

Os fãs do Firefox são menores em número se comparados com usuários do Internet Explorer, mas eles são apaixonados, entusiásticos e têm voz. São eles que a Apple vai encontrar no mercado de navegadores em Windows, e eles vão estar com as espadas e escudos em mãos.

A Mozilla já trabalha fora da maneira da Microsoft por fazer o Firefox quase que completamente compatível a uma World Wide Web desenhada para trabalhar com IE. Em vez de brigar e resistir ao domínio do IE, eles usaram a estrutura e até melhoraram.

A Apple vai seguir essa fórmula de vitória? A versão beta sugere que não. A Apple precisa se aproximar da interface do Windows com humildade – commodity raro na Apple – e também fazer as coisas no estilo da Microsoft. Ou pagar o preço em presença de mercado.

Por que escolher essa briga agora?

Alguns analistas estão sugerindo, e eu tendo a concordar, que o principal motivo para entrar no segmento de navegadores tão tardiamente tem mais relação com o iPhone e pouquíssima com os browsers.

Jobs anunciou que o iPhone vai suportar aplicações de terceiros desde que baseadas no browser. E adivinha qual navegador roda no iPhone? Sem dúvidas, a Apple quer dar incentivo adicional para desenvolvedores de software construírem sites e aplicações que suportam Safári.

Vê como a Apple “pensa diferente” sobre estes assuntos?

Em vez de fornecer aos usuários do iPhone o universo existente de aplicações otimizadas para IE e falando para os desenvolvedores de aplicações do iPhone criando programas compatíveis universalmente que também rodam no aparelho, a Apple sente que não precisa construir novamente e controlar um novo, proprietário, campo de atuação.

Este é o problema com o plano da Apple: Para controlar a experiência do usuário em aplicações de terceiros no iPhone, a Apple precisa controlar uma plataforma de navegação quase proprietária. Para levar desenvolvedores a criar para o navegador, precisa do poder de ter presença de mercado. Para ganhar presença de mercado, a Apple precisa de compatibilidade com o Windows e aceitação do usuário do Windows.

E – este é o ponto onde a lógica falha – para conseguir amealhar uma massa crítica de usuários de Windows, o Safari precisa abarcar os padrões webs existentes, as convenções de interface de usuário e de funcionalidade.

O iPhone vai ter um bom desempenho no mercado e diversas aplicações interessantes serão escritas para o Safari-no-iPhone. Mas acredito que o Safari vai ser destruído no mercado de navegadores Windows.

A Apple pode acreditar que pode entrar e dominar, pelo menos, o mercado “alternativo” de navegadores, como fez com o espaço de tocadores de mídias. Mas é outro mundo completamente diferente e distante do que a Apple está acostumada. A competição direta em um mercado que não é controlado por ela não é algo que a Apple faça.

O Safari no Windows vai fracassar.




Fonte: IDG Now!




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