Total Security - totalsecurity.com.br
Mestre em escravizar computadores
Durante seis horas de sono, o hacker de 21 anos invadiu quase 2.000 computadores pessoais por todo o globo. Enquanto ele dormia, o software que havia escrito vasculhava a internet à procura de computadores vulneráveis e os infectava com vírus que os tornavam escravos.
Agora, com a fumaça do primeiro Marlboro do dia enovelando-se pela sala da casa de seus pais, o hacker conhecido online como “0x80” acomoda o laptop novo na mesa de café e aperta uma série de teclas. Ao seu comando, os PCs “escravizados” começarão a baixar e instalar software que bombardeará seus usuários com anúncios de sites pornográficos. Depois da instalação, 0X80 ordena às máquinas que vasculhem a internet atrás de outras vítimas em potencial.
O jovem hacker, que concordou em ser entrevistado se não fosse identificado por nome nem cidade, dá uma tragada profunda no cigarro e sorri. Esse é seu emprego diário, e o trabalho termina em menos de dois minutos. Dentro de duas semanas ele receberá um cheque de US$ 300 de uma das empresas de marketing online que o remuneram por seus serviços.
“Na maior parte dos dias, eu apenas fico sentado em casa papeando online enquanto ganho dinheiro”, diz 0x80. “Recebo um cheque de algumas centenas de dólares a cada 15 dias, e um monte de outros eu recebo de bancos do Canadá a cada 30 dias.” Ele diz que seu trabalho lhe rende uma média de US$ 6.800 por mês, embora já tenha abocanhado US$ 10.000. Nada mal para quem largou os estudos no segundo grau.
Computadores domésticos invadidos e controlados remotamente, conhecidos como robôs, ou “bots” (do inglês “robots”), e redes robôs como a operada por 0x80 – chamadas “botnets” – são os cibermotores que impulsionam quase todo o comércio criminoso na internet. As botnets são usadas para abastecer milhões de spams (toda aquela tranqueira publicitária não solicitada que chega pela internet), apregoando de tudo, de Viagra barato a esquemas de enriquecer sem fazer força.
Os “botmasters” que controlam essas redes de computadores estão no coração dos cada vez mais comuns esquemas de extorsão online conhecidos como “ataques por rejeição de serviços.” Num ataque desses, os gângsteres da internet exigem dezenas de milhares de dólares em dinheiro de proteção de empresas. Se a empresa se recusa a pagar, os criminosos ordenam que milhares de computadores que integram suas botnets inundem os sites da empresa com tráfego inútil, obstruindo a atividade das empresas e causando-lhes prejuízos de milhares de dólares.
0x80 diz que não usa sua botnet para extorquir empresas. Ele e um número crescente de botmasters ganham dinheiro semeando suas botnets com programas espiões, também conhecidos como “adware”. Uma vez instalado num PC, o adware introduz pop-up de anúncios e prospecta dados sobre os hábitos de navegação do usuário na internet. O vírus de computador que potencializa a botnet também recolhe dados bem mais sensíveis da máquina da vítima, tais como senhas, endereços de e-mail e dados sobre cartões de crédito.
A distribuição de publicidade online adware se tornou um negócio de US$ 2 bilhões, segundo a fabricante de software de segurança Webroot Software Inc. À medida que o setor se expandiu, o mesmo aconteceu com as botnets. Alguns meses atrás, o FBI deteve um jovem de 20 anos da Califórnia do Sul que instalava adware numa botnet de mais de 400.000 computadores invadidos. As vítimas de Jeanson James Anchieta incluíam computadores da Agências de Sistemas de Informação de Defesa, segundo documentos do governo. Anchieta admitiu sua culpa no mês passado.
Como Ancheta, 0x80 instala adware sub-repticiamente. O jovem hacker não tem muita simpatia por suas vítimas. "Toda essa gente em minha botnet... Se eu não as usar, elas simplesmente vão cair na rede de algum outro, então é melhor que seja na minha”, diz 0x80. “Isso é, a maioria dessa gente que eu infecto é tão estúpida que nem faz negócios (pela internet).”
0x80 quase nunca olha nos olhos de seu interlocutor quando fala. Ele vive com os pais numa cidadezinha do interior. Os negócios mais próximos são uma loja de carros usados, um posto de gasolina com loja de conveniência e um clube de strip-tease, onde 0x80 diz que recentemente deixou US$ 800 por uma hora sozinho numa sala VIP com várias dançarinas. Ele conta aos pais que trabalha em casa para uma empresa de webdesign. Seu quarto parece um centro de controle de missão, com computadores, monitores de televisão e de computador, e o que devem ser muitos quilômetros de fios emaranhados plugados numa série de tomadas múltiplas protegidas contra oscilações de voltagem.
No momento, 0x80 controla mais de 13.000 computadores em mais de 20 países. Nesta manhã ele instalou spyware em apenas algumas centenas dos 2.000 PCs que invadiu nas últimas horas. Ele fará os implantes que faltam ao longo do dia e no próximo, usando um programa de sua autoria que automatiza o processo. Se instalar spyware demais de uma só vez, as empresas de marketing online “ficam desconfiadas, me tiram da jogada e eu não sou pago!”, ele murmura, olhando de soslaio para a tela enquanto as cinzas do cigarro caem sobre o laptop e a mesa de café. “Aprendi a não ser ganancioso.”
Fonte:www.link.estadao.com.br
Agora, com a fumaça do primeiro Marlboro do dia enovelando-se pela sala da casa de seus pais, o hacker conhecido online como “0x80” acomoda o laptop novo na mesa de café e aperta uma série de teclas. Ao seu comando, os PCs “escravizados” começarão a baixar e instalar software que bombardeará seus usuários com anúncios de sites pornográficos. Depois da instalação, 0X80 ordena às máquinas que vasculhem a internet atrás de outras vítimas em potencial.
O jovem hacker, que concordou em ser entrevistado se não fosse identificado por nome nem cidade, dá uma tragada profunda no cigarro e sorri. Esse é seu emprego diário, e o trabalho termina em menos de dois minutos. Dentro de duas semanas ele receberá um cheque de US$ 300 de uma das empresas de marketing online que o remuneram por seus serviços.
“Na maior parte dos dias, eu apenas fico sentado em casa papeando online enquanto ganho dinheiro”, diz 0x80. “Recebo um cheque de algumas centenas de dólares a cada 15 dias, e um monte de outros eu recebo de bancos do Canadá a cada 30 dias.” Ele diz que seu trabalho lhe rende uma média de US$ 6.800 por mês, embora já tenha abocanhado US$ 10.000. Nada mal para quem largou os estudos no segundo grau.
Computadores domésticos invadidos e controlados remotamente, conhecidos como robôs, ou “bots” (do inglês “robots”), e redes robôs como a operada por 0x80 – chamadas “botnets” – são os cibermotores que impulsionam quase todo o comércio criminoso na internet. As botnets são usadas para abastecer milhões de spams (toda aquela tranqueira publicitária não solicitada que chega pela internet), apregoando de tudo, de Viagra barato a esquemas de enriquecer sem fazer força.
Os “botmasters” que controlam essas redes de computadores estão no coração dos cada vez mais comuns esquemas de extorsão online conhecidos como “ataques por rejeição de serviços.” Num ataque desses, os gângsteres da internet exigem dezenas de milhares de dólares em dinheiro de proteção de empresas. Se a empresa se recusa a pagar, os criminosos ordenam que milhares de computadores que integram suas botnets inundem os sites da empresa com tráfego inútil, obstruindo a atividade das empresas e causando-lhes prejuízos de milhares de dólares.
0x80 diz que não usa sua botnet para extorquir empresas. Ele e um número crescente de botmasters ganham dinheiro semeando suas botnets com programas espiões, também conhecidos como “adware”. Uma vez instalado num PC, o adware introduz pop-up de anúncios e prospecta dados sobre os hábitos de navegação do usuário na internet. O vírus de computador que potencializa a botnet também recolhe dados bem mais sensíveis da máquina da vítima, tais como senhas, endereços de e-mail e dados sobre cartões de crédito.
A distribuição de publicidade online adware se tornou um negócio de US$ 2 bilhões, segundo a fabricante de software de segurança Webroot Software Inc. À medida que o setor se expandiu, o mesmo aconteceu com as botnets. Alguns meses atrás, o FBI deteve um jovem de 20 anos da Califórnia do Sul que instalava adware numa botnet de mais de 400.000 computadores invadidos. As vítimas de Jeanson James Anchieta incluíam computadores da Agências de Sistemas de Informação de Defesa, segundo documentos do governo. Anchieta admitiu sua culpa no mês passado.
Como Ancheta, 0x80 instala adware sub-repticiamente. O jovem hacker não tem muita simpatia por suas vítimas. "Toda essa gente em minha botnet... Se eu não as usar, elas simplesmente vão cair na rede de algum outro, então é melhor que seja na minha”, diz 0x80. “Isso é, a maioria dessa gente que eu infecto é tão estúpida que nem faz negócios (pela internet).”
0x80 quase nunca olha nos olhos de seu interlocutor quando fala. Ele vive com os pais numa cidadezinha do interior. Os negócios mais próximos são uma loja de carros usados, um posto de gasolina com loja de conveniência e um clube de strip-tease, onde 0x80 diz que recentemente deixou US$ 800 por uma hora sozinho numa sala VIP com várias dançarinas. Ele conta aos pais que trabalha em casa para uma empresa de webdesign. Seu quarto parece um centro de controle de missão, com computadores, monitores de televisão e de computador, e o que devem ser muitos quilômetros de fios emaranhados plugados numa série de tomadas múltiplas protegidas contra oscilações de voltagem.
No momento, 0x80 controla mais de 13.000 computadores em mais de 20 países. Nesta manhã ele instalou spyware em apenas algumas centenas dos 2.000 PCs que invadiu nas últimas horas. Ele fará os implantes que faltam ao longo do dia e no próximo, usando um programa de sua autoria que automatiza o processo. Se instalar spyware demais de uma só vez, as empresas de marketing online “ficam desconfiadas, me tiram da jogada e eu não sou pago!”, ele murmura, olhando de soslaio para a tela enquanto as cinzas do cigarro caem sobre o laptop e a mesa de café. “Aprendi a não ser ganancioso.”
Fonte:www.link.estadao.com.br
URL Fonte: https://totalsecurity.com.br/noticia/1350/visualizar/
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